Porque esquecer é morrer, vamos recordar o nosso amigo Carlos Calheiros, aliás José Amorim, que fez uma célebre viagem ao Brasil juntamente com a família. E nada melhor do que o próprio testemunho como é relatado por alguém que ouviu da sua própria boca a confirmação de tudo o que, no fim de contas, toda a gente já sabia, numa carta já publicada num blogue.
18 Julho de 1995
Partida de férias para o Brasil, do árbitro de Viana do Castelo, Carlos Calheiros.
“Olá amigo,
Começo por me apresentar como um árbitro da associação de futebol de Viana do Castelo e simpatizante do Benfica. Por isso, não quero que o que se passou recentemente fique em claro, como muitas outras situações já passaram. Como o nome da cidade já te deve inspirar alguma coisa (em termos de futebol e de arbitragem) esta é a cidade do famoso José Carlos Amorim Calheiros (mais conhecido na TAP por José Amorim) árbitro durante os saudosos anos 90.
Mas para te dizer o que se passou, aquilo que não deves saber é que actualmente ele é VICE-PRESIDENTE da Associação de Futebol de Viana do Castelo desde 1997 (ano em que deixou a arbitragem), instituição de utilidade pública, e segundo ele, com as funções de servir de 'ponte' entre o conselho de arbitragem da dita associação e o seu presidente. Sim, já sei o que estás a pensar: se o Martins dos Santos sem cargos deste género por si só já fez o que fez recentemente (corrupto uma vez, corrupto para sempre), agora imaginemos o que o nosso estimado José Amorim faz ao abrigo daquelas funções.
Ora, recentemente o presidente do conselho de arbitragem desta associação, de seu nome José Costa Valente (apelido que também inspira muita coisa), tio de Pedro Valente, árbitro da fpf que chegou a ser acusado de 2 crimes de corrupção no processo "Apito Dourado", convocou um plenário, uma espécie de reunião, com os seus árbitros dos quais eu faço parte, para entre outras coisas, limpar a sua imagem de situações recentes (compadrios, classificações de árbitros suspeitas, e outras situações pouco transparentes) e levou consigo o seu aliado nº1, o que na prática é o que o mantém no cargo, e quem é ele?
CARLOS CALHEIROS! Este falou aproximadamente 2,5 horas e aquele falou 2 horas (!). Entre muitas coisas, entre as coisas banalidades, o Sr. José Amorim (como aparecia na factura) teve o descaramento de falar na sua prodigiosa carreira (provocou um sorriso em todos os presentes), mas excedeu-se. E porquê? Porque, num tom de indiferença e quase gozo, confessou a seu clubismo, a sua tendência para o FC PORTO, lamentando-se dos jogos em que com ele o dito clube não conseguiu ganhar. Perante isto, houve um árbitro das filas da frente que disse algo, num tom digamos meio a sério meio a brincar, que provocou o seguinte diálogo entre eles:
- Então que inventasse um penalti!
- EU INVENTAR, INVENTAVA mas a bola às vezes não entrava! (Calheiros)
Pois, para bom entendedor meia palavra basta e caso para dizer também que pela boca morre o peixe e relembre-se que às vezes a bola entrava mesmo (o 3-3 nas antas, por exemplo) É que se em 1995 o Ministério Público arquivou o caso das 'viagens' porque alegadamente não conseguiu provar que o pagamento por parte do porto teve como contrapartida favores ilícitos, a verdade chegou tarde, mas chegou, foi dita publicamente por Calheiros que admitiu que beneficiava o porto deliberadamente para ter no final da época esse prémio generoso (uma viagem para si e para a sua família no valor de 760 contos).
Para que fique claro, tais palavras foram proferidas no passado dia 12 de Agosto de 2013, entre as 20h30 e as 23h por José Carlos Amorim Calheiros no auditório da sede do Grupo Desportivo e Cultural dos Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo para uma plateia de aproximadamente 30 árbitros, após aquele ter chegado, diga-se ainda, num majestoso JAGUAR que é seu, mesmo sendo funcionário público (trabalha no hospital público de Viana do Castelo).
Portanto, temos esta confirmação do que já sabíamos e, uma vez que tenho vergonha de ter como superior e conterrâneo tal indivíduo desprezível, gostava que isto fosse tornado público o mais possível para desmascarar um sem-vergonha como este. Espalhem tal facto, escrevam sobre isto usando palavras vossas com base na matéria aqui exposta que é rigorosamente verdade (pode ser atestada por várias pessoas) não só na blogosfera mas também nas redes sociais e orgãos oficiais do Benfica, editorial do Benfica e BenficaTV, porque tal não pode passar incólume.
Saudações”
E agora em inglês para que os nossos ouvintes estrangeiros também tenham o direito de saber o que se tem passado neste à jardim à beira mar plantado.
July 18 1995
Departure for vacations in Brazil of the referee of Viana do Castelo, Carlos Calheiros and his famíily. The trip was paid for by FCPorto.
To better know who Carlos Calheiros is and the reason why he went to Brasil with his family in a hollyday trip paid by FCPorto, we can let a collegue referee of him from the same town to tell us the story. The letter was received in a blog that published it.
"Hello friend,
Beginning to present me as a referee of the Football Association of Viana do Castelo and sympathizer of Benfica. I do not want that what have happened recently pass undisclosed, like many other situations have passed. As the name of the city should already tell you, in terms of football and refereeing, this is the city of the famous José Carlos Amorim Calheiros (better known in TAP by José Amorim) a referee during the 90s.
But to tell you what happened, what you don´t know is that Calheiros is currently the Vice-Chairman of the Football Association of Viana do Castelo since 1997 (the year in which he left arbitration), an institution of public utility and according to him, with the functions of serving as a "bridge" between the arbitration board of that association and its president. Yes, I know what you're thinking: if the (referee) Martins dos Santos without this kind of job did what he did (once corrupt, always corrupt), now you can imagine what our friend José Amorim (Calheiros) can do in his functions.
Recently the chairman of the arbitration board of the association, its name is José Costa Valente (with a surname that is also very inspiring), uncle of Pedro Valente, refereee of the FPF that was charged with 2 counts of corruption in the process "Golden Whistle", he convened a plenary meeting of some sort with his referees of which I belong, to among other things, clean up its image of recent situations (cronyism, suspicious of changing the ratings of referees and other opaque situations) and he brings with him his nr. 1 ally, which in practice is the person that keeps him in office, and who is he? Carlos CALHEIROS!
The later spoke for about 2,5 hours and the first for 2 hours (!). Among many things, among many banalities, José Amorim (Calheiros) had the nerve to speak of his prodigious career (provoked many smiles on everyone present), but this time he has outdone itself. And why? Because, in a tone of indifference and almost joy, confessed to his club sympathies, its tendency to FC PORTO, complaining about the games in which he said the club failed to win. Given this, there was a referee from the front rows who said something, say in a tone half serious half joking , that provoked the following exchange between them:
Heckler: Well you could have invented a penalty!
Calheiros: - I invented, yes, I invented (penalties) but the ball sometimes didn´t go in!
Well, one word to the wise is sufficient to say and we recall that many times the ball did go in (3-3 in Antas Stadium, for example). Is in 1995 the public prosecutor closed the case of 'travels' because allegedly they failed to find proves that the payments by Porto for the illicit favors, the truth arrived late but arrived, it was said publicly by Calheiros admitting that benefited the Porto deliberately to have at the end of the season this generous prize (a trip for you and your family in the amount of 760 contos (3800€)).
To be clear, these words were uttered August 12, 2013, between 20.30 and 23h by José Carlos Amorim Calheiros in the auditorium of the Sports Group Cultural Workers and the Shipyards of Viana do Castelo to an audience of approximately 30 referees, arriving at the meeting in his majestic JAGUAR, even though Ihe is just public employee (working in the public hospital in Viana do Castelo).
So we have his confirmation of what we already knew, and I'm ashamed to have him as a superior and fellow citizen, I would like this were made public as much as possible to unmask a scoundrel like this. Spread this fact, write about it using your words based on the facts here exposed that are strictly true (can be attested by several people) not just in the blogosphere but also on the social networks and official organs of Benfica, Benfica TV because this can not go unscathed.
Regards”
And now, for something completely different. Or not!
About DOPING!!
“Jogo Sujo”, por Fernando Mendes
Fernando Mendes, nascido a 6 novembro de 1966, foi o único jogador que até agora teve a coragem para denunciar o uso do doping e a “estrutura” por detrás que permitia isso no seu livro “Jogo Sujo”. Foi o único jogador que jogou em todos os clubes que foram campeões nacionais.
Jogou no Sporting, Benfica (1989-91), Boavista (91-93), Estrela (93-94), Boavista (94-95), Belenenses (95-96), Porto (96-99).
A Minha História com o Doping
Infelizmente o doping é uma consequência natural da competição. É fundamental atingir grandes resultados, ganhar, voltar a ganhar e ganhar cada vez mais. Isto faz com que muitos clubes resolvam encurtar caminho através dos caminhos da ilegalidade.
“Ou tomas ou não jogas”. Se um jogador não quisesse tomar perderia o lugar para outro que aceitasse. Sem jogar via o seu valor futebolísitco diminuir algo que é muito grave numa carreira que é muito curta. Feita esta reflexão demoramos muito pouco tempo a aceitar.
No meu tempo o doping era tomado de duas formas, injecção ou comprimido. Podia ser antes do jogo, durante o intervalo ou com a partida a decorrer. A injecção tinha efeito imediato enquanto o comprimido tinha de ser tomado uma hora antes do jogo.
Existiam diferentes métodos e cada jogador tomava uma dose personalizada, mediante o seu peso, condição física do momento ou a última vez que tinha ingerido a substância. Havia necessidade de gerir os ciclos de cada atleta para diminuir o risco de ataque cardíaco provocado pelo excesso de droga. Porém, partidas contra adversários directos, eliminatóiras da Taça de Portugal ou jogos das competições europeias era sempre certo. Quando se sabia que não iria haver controle antidoping, nunca falhava.
Uma injecção demorava cinco minutos a fazer efeito. Com aquilo no corpo, corria mais rápido, saltava mais alto e parecia que nunca me cansava.
Mas como qualquer droga que se usa para aperfeiçoamento de determinada função, alguns jogadores chegavam a certa altura em que já não conseguiam jogar sem estar dopados.
A influência do doping no desempenho atlético era de tal forma poderosa que dei por mim a conseguir “performances” quase inacreditáveis. Lembro-me de um jogo das competições europeias (com o Boavista) contra uma equipa que tinha 3 campeões do mundo no seu plantel. Um deles era um poderoso avançado no jogo aéreo (Jorgen Klinsman). Sempre joguei a defesa esquerdo mas apanhei-o várias vezes no meu terreno de acção. Ele era um armário com um tremendo poder de impulsão. Mas eu nesse dia saltei que nem um louco e ganhei-lhe quase todas as bolas de cabeça. PARECIA QUE TINHA MOLAS NOS PÉS. A esta hora esse antigo atleta ainda se deve estar a perguntar como é que foi possível perder tantas bolas para um meia-leca naquele jogo. O segredo era uma pequena vacina, do tamanho de meia unha, chamada “PERVITIN”. Espetavam-nos aquilo no braço e dava para correr e saltar durante 4 jogos seguidos. Eu é que estava alterado. Mas ainda assim fico contente por ter ganho porque esse momento foi histórico.
(N.R. Uma pergunta que eu faço a mim próprio muitas vezes, porque razão tantos jogadores têm os braços todos cheios de tatuagens? Será que para alguns é para esconderos os vestígios das sucessivas “picas”? Lembro-me assim de repente de Raul Meireles e de Lucho).
O doping tem duas faces. Por um lado dá força, dá para aguentar mais, ajuda a ganhar. Provocava uma RAIVA ENORME que acompanhada pelas palestras dava-nos vontade de entrar em campo e corrermos loucamente.
No final de um jogo em que nos tínhamos dopado pedíamos um “anti-raiva” de modo a baixar a dose que tínhamos tomado. Mas mesmo assim com o anti-raiva ainda dava para correr até à meia noite. Ou então dava para o inverso, depressão, falta de paciência, isolamento.
O mais triste de tudo isto é a naturalidade com que um futebolista aprende a viver nesta situação miserável. Quando o massagista que nos dava a droga dizia-nos que era ilegal mas não nos avisava de eventuais perigos.
A “ORGANIZAÇÃO” NO NORTE DE PORTUGAL
Os jogadores eram peões neste enorme esquema chamado doping desportivo. Segundo constava as dosagens eram feitas em laboratórios no norte do país. Dizia-se também que esses laboratórios até tinham fachadas legais, mas dedicavam uma parte das instalações e dos seus rucursos humanos à investigação de novas dosagens que pudessem passar incólumes nos controlos antidoping. As pessoas desses laboratórios trabalhavam directamente com alguém do corpo clínico dos clubes. O estimulantes acabavam sempre nos balneários para serem testados.
OS JUNIORES COMO COBAIAS
O sistema de doping num dos clubes onde joguei era de tal forma elaborado que estendia as redes da sua perversidade para além do plantel senior. Em certos treinos aparecia um ou dois juniores para treinar connosco, mas não estavam ali porque eram bons, estavam ali para servirem de cobais a novas dosagens. Um elemento do corpo clínico dava cápsulas ou injecções com composições ilegais a miúdos dos juniores. Essas experiências não podiam ser feitas com jogadores seniores que jogam todos os domingos e que são os principais activos do clube. Se alguma coisa saisse mal saia caro. Além disso no futebol senior há controlos antidoping. Nos juniores os controlos acontecem uma vez na vida por isso era o ideal para fazer experiências.
Os juniores urinavam para dentro de um copo e essa urina iria servir para fazer os testes antidoping internos. Quando saiam os resultados alguém telefonava para os laboratórios dos subúrdios a dar as novidades, “Olha, isto acusou tanto, por isso temos de baixar a dose”. Ou então, “Não está a acusar nada, por isso podemos aumentar um bocadinho”.
Quando a dosagem era acertada, iniciava-se a produção em massa para o plantel sénior. Os júniores nem faziam ideia do que lhes davam pois diziam que era vitaminas e que a urina era para controlo interno e análises. Os júniores eram utilizados para melhorar o desempenho do plantel principal.
Durante os anos que andei no futebol profissional percebi da forma mais cruel que para ganhar vale quase tudo. “Não olhar a meios…”
O efeito de determinados estimulantes é que incutem uma RAIVA ENORME que pode ser uma grande ajuda quando andamos a correr e a despender um grande esforço durante o jogo.
Os clubes que usam estimulantes apenas se preocupam em escapar aos controlos antidoping. Mas os riscos são evitados através de várias artimanhas. Por vezes os departamentos médicos que utilizam estimulantes probidos controlam os jogadores para perceberem se o fármaco injectado noutro jogo já saiu do organismo.
Sempre ouvi dizer que em determinados clubes davam urina de terceiros a atletas dopados para que estes não acusassem nenhuma substância ilícita nos jogos em que havia controlo antidoping. Também achava estranho ver massagistas guardarem algálias (sondas ocas que se introduzem pela uretra até à bexiga) dentro das sua malinhas.
Outro desses truques eram as bolinhas frias utilizadas pelos médicos, muito em voga na primeira metade da minha carreira, através das quais se escolhia quais os jogadores que podiam ir ao controlo.
Os esquemas ardilosos podem mudar com a passagem dos anos, mas nunca deixam de existir. Eu não ficaria surpreendido se viessem a público situações semelhantes.
(Por acaso vieram, Casagrande, Deco, Carlo Alberto, Semedo, Emerson, tudo ex-jogadores do Porto).
O doping trouxe grandes benefícios a quase todos os envolvidos. Claro que a boa forma não se fica a dever apenas à utilização de estimulantes, não existe nenhuma fármaco que ensine a jogar futebol.
O PROGRAMA DA SIC, 30 de Maio de 1997.
O programa “Donos da Bola” da SIC exibe uma reportagem em que com recurso a uma câmara oculta um jornalista faz-se passar por um dirigente interessado em comprar alguns estupefacientes para que os seus jogadores possam correr mais. Estão a 2 jornadas do fim e precisam de ganhar esses jogos para garantir a manutenção. O jornalista consegue o contacto de um médico do Porto (Matosinbos) que tem fama de facilitar esse tipo de situações a clubes interessados.
(n.r. O infame Póboas que foi agraciado com um lugar na Administração da SAD do FCP. Pelos serviços prestados?).
Esse médico recebe o pretenso dirigente na sua clínica privada em Matosinhos e é filmado em flagrante a vender-lhe uma caixa de comprimidos de Centramina por 40 contos (€200). Durante a conversa, o médico sem saber que está a ser filmado dá uma verdadeira lição sobre productos dopantes. Questionado pelo jornalista começa a falar em Pervitin. Usei várias vezes, era fortíssimo.
Para além dos ensinamentos técnicos o clínico recorda a sua experiência num clube onde tinha trabalhado nos dois anos anteriores e revela contactos que lhe permite saber quando havia controlos antidoping. “Como sabia sempre dos controlos aquilo era na boa. Andei a época toda a saber”.
O clínico salienta a importância de haver poucas pessoas com acesso ao balneário (o Porto desde sempre tem tido um controlo muito apertado. A tal “estrutura” e “organização” com gostam de lhe chamar serve para muita coisa).
“Normalmente as coisas passam pelo massagista”. Os jogadores devem estar sozinhos no balneário com o massagista. Não devem lá estar nem treinadores nem dirigentes”, continua.
“Numa situação dessas (urgência de resultados) convinha que uma grande parte do plantel tomasse”, remata.
Para convencer os atletas o clínico aconselhava que se mentisse, “pode meter o produto dentro de uma cápsula e dizer que é cafeína. A cafeína admite-se na boa”.
O médico fala também da cafeína que se vende em Espanha e que se chama “Durvitan” mas diz que este producto não serve para esta sutuação pois tem “um efeito retardado de oito horas”. A Centramina é o fármaco indicado, “os comprimidos tomam-se uma hora e um quarto antes do jogo. Pode dar-lhes com café ou com água. Como são dois jogos quem tomar deve tomar dois de uma só vez”. (Portanto, tudo numa boa)
Este aumento de quantidade é um lema desportivo que eu tive de viver, quanto maior o desafio maior a dose.
“Agora já não uso muito a cafeína. Quando há controlo uso uma coisa que os ciclistas me arranjaram. É o Ozotine, um imunomodulador. Melhora a parte respiratória. São umas ampolas com vários productos e mete-se cafeína também injectada, faz-se uma seringa com 10-15cc e depois cada jogador toma 1,5cc”.
Finalmente o médico deixa um conselho final, “É muito importante que os atletas sintam que está tudo controlado, que não há perigo dos atletas serem apanhados no controlo antidoping”.
E um remate final, “A base não só disto mas também dos árbitros, porque isto não chega para meter golos, os árbitros também são importantes”.
(Claro, os árbitros, sempre)
Outro Clube
Noutro clube havia uma maior cuidado na administração de substâncias ilícitas e no receio de eventuais controlos antidoping. Essa postura mais cautelosa resultava de uma maior capacidade de acesso a informação confidencial, como vim a saber durante a época. O médico também se gabava de ter alguém que o informava com antecedência dos jogos em que iria haver controlo antidoping. Assim, se um jogo fosse ao domingo o médico sabia na 6ª ou no sábado quais as partidas que iriam estar sob a tutela do controlo antidoping.
Se não havia controlo havia estimulantes. Quando havia controlo, não havia.
O contacto dele devia ser muito eficaz porque das poucas vezes que fui controlado nunca acusou nada!!! Nem eu nem os meus colegas.
Nos tempos em que jogava ouvi muitas vezes falar que muitos jogadores levavam urina de outras pessoas para o controlo de modo a não serem apanhados. Urinavam e no fim trocavam os frascos. Dizia-se que era habitual em alguns clubes.
Neste clube os jogadores tinham caminho livre para tomar as substâncias propostas pelo médico.
Os produtos ajudaram-me a fazer um das melhores épocas da minha carreira. (n.r. Fernando Mendes foi para o Belenenses com 28 anos e para o Porto com 29 anos).
Nessa época já não era muito jovem e sabia que aquela seria uma grande oportunidade e poder vir a melhorar a minha situação desportiva. Para além do doping nessa época tinha um grande treinador e colegas com muita qualidade.
Em alguns clubes tomei Pervitin, Centramina, Ozotine, cafeína, entre muitas outras coisas de que nunca soube o nome. Também tive um médico que nos dizia quando ia haver controlos.
E termina,
“Sim caros leitores, há doping no futebol português. Há muitos anos. Em vários clubes. Chega lá de diferentes formas, é testado de várias maneiras e é consumido apenas pelos atletas. Dá força, dá ressaca, dá alegria, dá angústia. É bom e é uma merda. Mas era melhor que não houvesse. Como era melhor que não houvesse árbitros comprados, dirigentes corruptos, jogadores violentos e adeptos doentes.
Nada se prova, ninguém é preso, A IMPUNIDADE É TOTAL. Não há homem justo ou bem intencionado que resista às redes do poder megalómano e criminoso que se vai instalando no futbeol português através das mais variadas ramificações. O DOPING É APENAS UM DESSES TENTÀCULOS DO MAL QUE POLUi A VERDADEIRA ESSÊNCIA DO JOGO.
Um jogador que consome estimulantes durante uma época inteira irá ter um momento de forte quebra física. O doping surge como uma forma de enganar o cansaço do corpo. Tem um efeito imediato mas mais tarde o atleta irá ressentir-se da violência muscular. Várias vezes observei equipas que estão com muita força na 1ª volta mas que na 2ª andam de rastos.
Nota Final
Este livro é uma segunda versão da obra incialmente escrita. A primeira versão apontava nomes, locais e datas dos momentos mais sórdidos que aqui são relatados. Infelizmente, o clima de medo e de censura instalado no futebol português tornou impossível juridicamente que essas mesmas pessoas fossem expostas, deixando esse primeiro livro condenado a viver numa gaveta.
As páginas que acabaram de ler, e das quais me orgulho, são frontais, verdadeiras, mas tiveram de ser generalizadas por causa de um SISTEMA PERVERSO em que todos têm MEDO e vergonha de dar a cara e apontar o dedo aos responsáveis por situações ilegais e violadoras da ética desportiva. Espero, no entanto, que depois destas páginas algumas pessoas que viveram situações semelhantes possam vir a público contar a sua história. Aqueles que o fizerem estarão a prestar um serviço inesmitimável ao futebol português. Pode ser que, nessa altura, a gaveta do primeiro livro se abra. E, acreditem, há muito mais para contar.
And the same text now in english for our foreign readers:
"Dirty Play", by Fernando Mendes
Fernando Mendes, born on November 6, 1966, was the only football player who has so far had the courage to denounce the use of doping and the "structure" behind that allowed that, in his book "Dirty Play". He was also the only player who played in all the clubs that were portuguese champions.
Played at Sporting, Benfica (1989-91), Boavista (91-93), Estrela (93-94), Boavista (94-95), Belenenses (95-96), Porto (96-99).
My Story with Doping
Unfortunately doping is a natural consequence of competition. Achieving great results, to win, to win and win again, more and more. This causes many clubs decid to shorten the way through the paths of lawlessness.
"Take it or Leave it". If a player does not want to lose his place in the team to another player he accepts. If you don´t play your sport value decreases enormously and that is very serious in a career that is so short. With this in mind it will very little time of hesitation.
In my time doping was taken in two ways, injection or tablet. It could be before the game, during halftime or underway the match. The injection had immediate effect and the tablet had to be taken an hour before the game.
There were different methods and each player took a personalized dose according to his weight, physical condition or the last time he had ingested the substance. There was a need to manage the cycles of each athlete to reduce the risk of heart attack caused by excessive drug. However, matches against direct opponents, the Portugal Cup or European games was always sure. When we knew there it would not be any anti-doping control, it never failed.
An injection took five minutes to take effect. With that in the body, we ran faster, we jumped higher and we seemed never tired. But like any drug that is used for improvement of certain function, some players reached a certain point where they could no longer play without being doped.
The influence of doping in athletic performance was so powerful that I found myself getting almost unbelievable "performances". I remember a game in an European competition (with Boavista) against a team that had 3 world champions in its squad. One was a powerful striker in the air (Jorgen Klinsmann). Always played left-back but I caught him several times on my area of action. He was a beast with a tremendous power of thrust. But that day I jumped like crazy and won almost all the headers. There seemed I had SPRINGS ON THE LEGS. Today, this old athlete must still be wondering how it was possible to lose so many high balls to a dwarf. The secret was a smal , middle -sized nail called "Pervitin". They sticked us in the arm and I could run and jump for 4 straight games. It was me that was changed. But still I´m glad I won because that moment was historic.
(n.r. A question I asked myself many times, why some players have the arms all full of tattoos? Is it to hide the "sticks"? Raul Meireles and Lucho from Oporto are 2 players that I can recall suddenly).
Doping has two faces. On the one hand gives strength to endure, gives more help to win. It caused a HUGE RAGE that accompanied the lectures given to us before the tsrat of the game and we run wildly. At the end of a game in which we were doped we took an "anti-rabies" in order to lower the dose that we took. But still with the “anti-rabies” we still could run until midnight. Or we could face the opposite, depression, lack of patience, isolation.
The saddest part of all this is the ease with which a footballer learns to live in this miserable situation. When the masseuse gave us the drug he always told us that it was illegal but never warned us of the possible dangers.
The "ORGANIZATION" IN THE NORTH OF PORTUGAL
Players were pawns in this huge scheme called sports doping. According to many the dosages were made in laboratories in the north of Portugal (in Oporto). It was also said that these labs even had legal façades, but devoted a part of the premises and of its human research to the investigation of new dosages that could pass unharmed in doping controls. The people in those laboratories worked directly with people of the clinical staff of the clubs. The stimulants always ended up in the dressing room to be tested.
THE JUNIORS AS GUINEA PIGS
The system of doping in a club where I played was sofisticated in such a way that they extended the networks of their wickedness beyond the senior squad. In certain trianings appeared one or two juniors to train with us, but they were not there because they were good, they were there to serve as guinea pigs for the new dosages. A member of the clinical staff gave capsules or injections of illegal compositions to the kids. These experiments could not be done with senior players who play every Sunday and who are the main assets of the club. If anything went badly it would be expensive for the club. Also in senior football there are doping controls, while in junior the checks happen only once in a lifetime so it was the perfect place to make the experiments.
The juniors urinated into a cup and that urine would serve to make the internal antidoping tests. When the results came out someone phoned the laboratories of near by to give the news, "Look, this has accused too much, so we have to lower the dose". Or, "This doesn´t accuse much, so we can raise a little".
When the dosage was right, they initiated mass production for the senior team. The junior did not have any idea of what was given to them, they said it was just vitamins and that urine was for internal control and analysis. The juniors were used to improve the performance of the first team.
Over the years I've been in professional football I realized that the cruelest way to win was tha almost anything goes. "The ends justifies the means".
The effect of certain stimulants is that they instill one HUGE RAGE which can be a big help when we run and expend a lot of energy during the game. Clubs who use stimulants only bother to evade doping controls. But the risks are avoided by several tricks. Sometimes medical departments who use stimulants forbidden control their players to realize if the drug that was injected in another game has left the body.
Always heard that in certain clubs gave urine of a third part to doped athletes so they do not accuse any illicit substance in games where there was doping control. Also felt strange to see masseurs keeping catheters (hollow tubes that are inserted through the urethra into the bladder) inside you’re their bags. Another of those tricks were cold balls used by the doctors, much in vogue in the first half of my career, through which they could choose which players could go to the control. The cunning schemes may change with the passage of years, but they have never ceased to exist. I would not be surprised if similar situations became public.
(Actually it became, Casagrande, Deco, Carlos Alberto, Semedo, Emerson, all former players of Porto).
Doping has brought great benefits to almost everyone involved. Of course the good form of a player is not due solely to the use of stimulants, there is no drug that can teache to play football.
THE PROGRAM OF SIC , May 30, 1997.
The "Donos da Bola", a SIC program displays a report using a hidden camera and a journalist passing for an officer of a second rate club interested in buying some drugs so that their players can run longer. They have two games remaining and need to win these games to ensure maintenance. The journalist contacts a doctor in OPorto (Matosinhos) which is reputed to facilitate this type of situation for the clubs concerned.
(n.r. The infamous dr. Póboas that was awarded a place in the Board of Directors of FCP SAD. For good services?).
That doctor receives the alleged officer in his private clinic in Matosinhos and is filmed in the act selling him a box of 40 tablets of "Centramina" for 40 contos (€200). During the conversation, the doctor, unknowingly being filmed, gives a lesson about doping products. Asked by the journalist begins to speak in Pervitin. I used it several times, it was very strong.
Beyond the technical teachings the doctor recalls his experience at a club where he had worked in the previous two years and reveals contacts that lets him know when there were anti-doping controls. "As always I knew the checks and that was cool. I knew it during the whole season".
The doctor stresses the importance of having a few people with access to the locker room. (N.R: O Porto has always been known to have a very tight control on such things. Such an "organization" serves many purposes).
"Usually the things must pass by the masseur. The players must be alone in the locker room with the therapist. Should not be there any coaches or directors", he continues.
"In such a situation (emergency results) sould be fitting to have a large part of the squad taking the product", he concludes.
To convince athletes clinical advised that lie, "can get the product within a capsule and say it is caffeine. Caffeine is admitted without problems".
The doctor also speaks of caffeine that is sold in Spain and is called "Durvitan" but says that this product is not for this situation for it has "a delayed effect that takes eight hours". The "Centramina" is the drug is indicated, "the pills are taken an hour and a quarter before the game. You can give them with coffee or water. For those two games the should take two at once", (So, all is well )
This increase in quantity it is a sports motto that I had to live with, the higher the challenge the greater the dose.
"Today I do not use much caffeine. When there is control I use something that cyclists gave me. It is “Ozotine”, an immunomodulator. Improves the respiratory part. It is vials with various components and we put in caffeine, one makes a syringe with 10-15cc and then each player takes 1,5cc”.
In the end the doctor leaves a final advice, "It is very important that the athletes feel that everything is controlled, that there is no danger of being caught in the doping control".
And a final shot, "Basically it is not only this but the referees also counts, because this is not enough for scoring goals, referees are also important".
(Of course, the referees, always the referees)
Another Club
In other club, they had greater care in administering illegal substances for fear of any doping controls. This more cautious approach resulted in a greater ability to access confidential information, as I learned during the time. The doctor also boasted of having someone that informed him in advance of the games in which would be doping control. Thus, if a game was on Sunday the doctor knew on Friday or Saturday the matches that which would be subject of doping control. If there was no control we had stimulants. When there was control, there was not.
His contact must have been very good because of the few times I went to the control it never found anything! Neither none of my colleagues.
During the times I played I often heard talking about many players that took urine of other people to the control so as not to be caught. They urinated and in the end they changed bottles. It was said that it was customary in some clubs. In this club the players had free way to take substances proposed by the doctor.
The products helped me make one of the best seasons of my career. (n.r. Fernando Mendes played for Belenenses when he was 28 years old and went to Port at 29 years). At that time I was no longer very young and knew this was a great opportunity to improve my sporting situation. Beyond the dope at that time we had a great coach and colleagues with great quality.
In some clubs I took “Pervitin”, “Centramina”, “Ozotine”, caffeine among many other things I never knew the name. I also had a doctor who told us when there would be controls.
And he ends,
Yes, dear readers, there is doping in Portuguese football. Has been for many years. In many clubs. There comes in different forms, is tested in several ways and is only consumed by athletes. Strength, hangover, joy, anguish. It's good but it sucks. But it was better if there were not. How it was much better if there were not bought referees, corrupt officials, violent players and alienated supporters.
Nothing is proven, no one is arrested, the impunity is TOTAL. There is no fair or well-intentioned man who resists the networks of power and megalomaniac criminalit established in Portuguese football through its various ramifications. The DOPING IS JUST ONE OF THOSE EVIL tentacles polluting the TRUE ESSENCE OF THE GAME.
A player who uses stimulants for a whole season will be a time of great physical break . The doping emerges as a way to trick the body fatigue . Has an immediate effect but later the athlete will resent the muscular violence. Several times I watched teams that are too hard on lap 1st but the 2nd go wake .
A Final Note
This book is a second version of the work initially written. The first version pointed names, locations and dates of the most sordid moments that are reported here. Unfortunately, the climate of fear and censorship installed in the Portuguese football has made it legally impossible that these same people were exposed, leaving this first book condemned to live in a drawer.
The pages you just read, and of which I am proud of, are frontal, true, but had to be generalized because of a perverse SYSTEM where everyone is afraid and ashamed of to give the face and pointing the finger at those responsible for illegal situations that violate the ethics of sport. I hope, however, that after these pages some people who have lived similar situations may come forward to tell their story. Those who do that will provide a priceless service to Portuguese football. It may be that at that time, the first book in the drawer will see the light of day. And believe me, there is much more to tell.
http://oantitripa.blogspot.pt/2014/01/pinto-da-costa-e-ditadura-fascista.html
ResponderEliminarPara serem coerentes também tem que colocar a historia da máfia Siciliana de há 50 anos atrás, pq aquela sim dava direito aos calabouços de Penhice e Tarrafal acompanhados de tortura de sono e sessoes continuas de tortura!!! Sim sim aquela mesma máfia Siciliana que nao deixou sair o Eusébio de Portugal pq era patrimonio do Estado.
ResponderEliminarSou desse tempo e sei do que falo!!!
Geralmente o anonimato não tem acesso a este blog mas para sermos "coerentes" e porque também "sabemos do que falamos", vamos então deixar passar e também com "coerência" dizer-lhe o seguinte: a máfia a que se refere, a siciliana, esteve e está centralizada em Itália e não creio ter exercido qualquer "função" em Peniche ou Tarrafal, muito menos ter tido qualquer controlo de fronteiras em Portugal.
ResponderEliminarQuanto à Mafia da Palermo Portuguesa, essa, o mundo inteiro sabe, está localizada na cidade do Porto, em Portugal continental, cujo quartel general está acantonado para os lados da Madalena, arrabaldes da Invicta.Para comprovar e através deste blog, poderá inteirar-se (até em inglês) do que diz e pensa a imprensa internacional.
Aceite um conselho; o caro anónimo deveria aperfeiçoar um pouco mais os seus conhecimentos geográficos e históricos e assim evitar atoardas futuras.
Nós também somos e sabemos do que falamos, principalmente dos "feitos históricos" (e não só) de há mais de 30 anos a esta parte.
Passe muito bem, cultivando-se um pouco mais para realmente "saber do que fala".