quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

("Histórias Com Brazão" A MAFIA DA PALERMO PORTUGUESA (81)


O Sporting Um Clube Realmente Diferente.

O Sporting mergulhou nos últimos anos numa comédia dramática divertida para adversários, desesperante para os seus adeptos. Vale a pena perdermos um pouco de tempo a olhar para eles.

O Sporting nos últimos 29 anos venceu por duas vezes o campeonato nacional. Repito, duas vezes. Vamos então dividir este tempo em duas fases. Uma entre 1982 e 2000 e outra de 2002 a 2011.

1982 - 2000
Nos primeiros 18 anos de jejum conheci um Sporting cujo maior orgulho era dizer ao mundo que eram um clube diferente. Ainda hoje o dizem, podem já estar a pensar. Pois dizem mas agora dizem por dizer, nem sabem bem o que isso quer dizer. Mas eu sei.
O grande problema que os meus amigos e conhecidos sportinguistas têm comigo é que eu apesar de sempre assumir que o meu rival é o Sporting e que é neles que concentro a minha ironia também conheço bem a sua história. Posso até dizer que a minha memória tem muitos mais dados e imagens do Sporting que a maior parte dos lagartos que eu conheço. Isto tem uma explicação muito simples. É que eu ainda vivi a época romântica do nosso futebol. Eu passei a minha infância e adolescência na Luz. Mas também passei uma boa parte em Alvalade. Ia com a mesma certeza apoiar o Benfica à luz como ia com a mesma vontade agoirar o rival no seu próprio estádio com amigos vizinhos verdes.

Era o tempo de chegar à porta do estádio e usar as palavras mágicas que nos punham lá dentro: "Senhor, posso fingir que sou seu filho e entrar consigo". Simples, sem torniquetes nem revistas nem seguranças. Umas palavras mágicas e o jogo era nosso.
Curiosamente não tive muitas alegrias nos anos 80 em Alvalade. Poucas vezes os vi a perder no campeonato e quando perdiam até era o clássico que nos dava jeito que ganhassem. Nas saudosas noites europeias às 4ªs feiras vi ali jogar algumas das boas equipas da Europa como o Ajax, Feyenoord, o Sevilha, o Barcelona, Inter, Nápoles, Real Madrid ou Real Sociedad e outros. Sempre com casa cheia, sempre com os lagartos orgulhosos da sua equipa.
Era aqui que residia o segredo do serem diferentes, nada ganhavam mas os adeptos enchiam o estádio sempre com a equipa mantendo sempre a fé. Curiosamente, nesta década das poucas vezes que lá fui sem ser com o SLB raramente ganharam um jogo!

2002 - 2011
Depois vieram os quase 10 anos de jejum que ainda vivem após dois títulos ocasionais. Esta fase não tem nada a ver com a dos anos 80 e 90. Entraram numa indefinição total. Chegaram ao ponto de se contentarem com 2ºs lugares submissos a um clube corrupto que os usou como quis e precisou perante a apatia verde geral. A bem ou a mal desviaram jogadores como Moutinho ou Varela, ganharam os clássicos que precisaram e chegaram a convencer o Sporting a entrar numa estratégia letal com objectivo de acabar de vez com o Benfica no reinado de Roquete como já foi contado recentemente.

A modernização do Sporting tem sido triste e feia. Mudaram para um estádio com cadeiras às cores, com um fosso estúpido entre bancadas e relvado que a maior parte do tempo está num estado lamentável. Tornaram Alvalade num atabalhoado campo de futebol ignorando assim aquela imagem de marca que era a pista de atletismo que conseguia dar mais elan ao estádio que todos estes novos azulejos do Taveira. Tiveram como golo inaugural um pontapé do Luís Filipe o que espelha bem esta nova era. Esqueceram-se de construir um pavilhão que juntasse as modalidades ditas amadores que sempre foram tão queridas dos associados. Acabaram aos poucos com a vida que havia naquele recinto. E a tudo isto os sportinguistas reagiram com entusiasmo justificando tudo com a dedicação ao clube e demorando quase uma década a perceber que têm de acabar com aquele fosso, têm que pintar a sua casa com as suas cores e que precisam mesmo de um pavilhão que devolva algum sentimento de ecletismo que pessoas como o Prof. Moniz Pereira mereciam que nunca tivesse sido tirado dali.

Nesta nova era, 2002 - 2011, as derrotas caseiras passaram a ser muito mais comuns do que nos outros 18 anos, as grandes noites europeias também se contam pelos dedos das mãos, o ambiente de estádio cheio é uma miragem convertida numa média de 20 mil pessoas nas bancadas. Até as claques se multiplicaram por divergências e transformaram-se numa espécie de braço armado das últimas direcções com Salema Garção e agora Paulo Cristovão em destaque.
Raramente vencem um derby na Luz ou em casa ou em campo neutro. Depois dos tais 2ºs lugares tão festejados foram deixados para trás pelos corruptos que viram no Braga uma parceria muito mais importante e nos últimos anos os sportinguistas passaram a ver o Sporting minhoto a lutar mais pelo título do que eles e até a igualar uma presença numa final europeia! Deixaram de poder lutar pelo título e têm actualmente como grande objectivo recuperarem a posição terciária ameaçada por outsiders.

Tiveram presidentes anedóticos que em situação de aperto se atiravam sempre ao Benfica para agradar às massas, receberam na sua casa homens cujas maiores qualidades eram ser... anti benfiquistas, como Costinha, viram o seu futebol caír na lama e puseram todas as esperanças numas eleições já este ano.
O que seria um momento de viragem no Sporting tornou-se apenas e só em mais um brutal episódio de comédia dramática com uma noite pré histórica, usando palavras tão em voga por aqueles lados, com trafulhices denunciadas, pancadaria, sacos de votos enigmáticos e o anúncio de um vencedor que embaraçava a nação sportinguista como se pôde ler e ouvir nas horas imediatas. Como se não bastasse terem um Presidente indesejado passaram a ter um treinador que transporta toda a herança corrupta de anos e anos ligados ao Porto. Um homem que sempre foi odiado em Alvalade passava a ser a maior esperança. E com tudo isto a própria identidade leonina vai desaparecendo. Já estão por tudo para voltarem a ganhar, tudo vale.
Onde estão os tempos de serem realmente diferentes? Enterrados no século passado. Já foram.

Nova Direcção Entra a Matar
Mas esta Direcção entrou mesmo determinada em mudar o ciclo e realmente preparou muito bem o novo look do leão para a nova temporada. Fez um trabalho soberbo ao nível da conversão dos descontentes em vozes de concordância. Felizmente tenho amigos e conhecidos que não perdoam nada daquela noite eleitoral e naturalmente afastaram-se da vida do clube passando apenas a acompanhar os 90' de cada jogo e mais nada. Mas foram muitos os que embarcaram nestes novos tempos de Alvalade. Alguns que eu até tomava por serem genuinamente "diferentes".

O mérito desta direcção explica-se muito rapidamente. Percebeu o erro que os responsaveis anteriores estavam a cometer com os desprezados bloggers e inverteram a situação. Chamaram-nos para dentro do clube oferecendo alguns mimos que os fizeram sentir, finalmente, importantes. Têm uma pessoa a acompanhar os principais blogs verdes que os alimenta com informações previligiadas, reuniões nas instalações do clube e trocas de sms que podem até resultar em campanhas concertadas. Poucos foram os bloggers que resistiram a este canto da sereia. Isto fez com que a opinião bloguista mudasse passando tudo a falar praticamente a uma só voz. Umas criticas ali outras aqui mas no essencial sempre todos juntos mesmo quando nem percebem bem porquê, tudo em nome de uma forte união que os vai levar de volta aos títulos.
Perde-se o sentido critico, toldam-se os pensamentos e incentiva-se os adeptos a episódios graves como este dos incêndios.

Os Novos Soundbytes
Como nas grandes campanhas políticas o Sporting também optou por dar aos seus seguidores umas frases fortes ou como se costuma dizer uns soundbytes. Este ano começou por ser O Sporting está de Volta. Não correu muito bem porque na apresentação levaram 3 em casa e depois a volta do Sporting foi não ganhar ao Olhanense, ao Beira Mar oa NordsNãoseiquê e perder com o Marítimo em casa. A frase tornou-se gozo para os rivais. Agora apareceu uma muita mais acertada: Isto é o Sporting. Bem exibida na bancada da polémica na Luz. Os adeptos mostraram a frase anunciando o que aí vinha. O resultado foi esclarecedor.
Como depois do péssimo arranque de época a equipa entrou numa senda de vitórias o universo verde passou num instantinho da profunda depressão à euforia desmedida que só tinha olhos para o tal derby. E aqui começaram os problemas.
Há mais de um mês dizia-me um amigo ao almoço que tinha ouvido da boca de um jogador do Sporting que na paragem por causa do jogo da Selecção a estrutura do clube já passava a mensagem ao plantel que o jogo da Luz tinha de ser para ganhar. Estranhei porque faltava imenso tempo mas depois percebi que a obcessão era tão real que elevaram aquilo a jogo do ano.

O actual problema do Sporting nem é só a fraca figura do Presidente Godinho, homem honrado mais conhecido pelo julgamento por corrupção do caso "paquetes da expo". A tropa que ele reuniu à sua volta é que levou o Sporting rapidamente aos patamares dos Guerreiros do Minho na senda dos amigos corruptos. Além do regresso dos outrora escorraçados Duque e Freitas há uma figura de peso (literal) neste novo Sporting, Paulo Pereira Cristovão que já tinha tentado chegar à presidência do clube e que viu agora uma porta aberta para realizar o seu sonho de colocar em prática todo o seu doentio anti benfiquismo primário já testemunhado até por alguns amigos sportinguistas.

A rábula da Jaula
Portanto, numa época em que no Dragão acabaram com as bolas de golf e todo aquele vandalismo ao autocarro da equipa, às casas do Benfica, deixaram de levar galinhas para o campo, voltaram a exibir a bandeira do nosso clube no estádio, percebendo que todos esses pormenores só os diminuiam, os amigos do Sporting resolvem passar ao ataque.
O pretexto foi então uma decisão do Benfica em passar a instalar os adeptos visitantes numa bancada superior devidamente delimitada e guardada. A opção foi clara e explicada muitas semanas antes. Já esta época adeptos do Manchester United e Basileia ( e Bósnia ) ficaram nas bancadas superiores sem qualquer drama nem incidente.

O Sporting usou a imprensa que tem mais à mão para iniciar uma mega campanha de vitimização agarrando num pormenor comparativo ao que se faz lá fora. Estádios que têm essa zona para visitantes e a que normalmente se chama de "The Cage". A caixa. Ou numa tradução mais conveniente; A JAULA. E é a partir deste nome, divulgado pelos media, note-se bem, que começam as teorias da afronta, da provocação, do afrontamento. O Benfica muito pacientemente insistiu na explicação que era uma bancada normal e delimitada, nada de especial. Até que entram em campo os cãezinhos de caça como Eduardo Barroso a levaram ao extremo a irritação dos adeptos leoninos cada vez mais escaldados com a indignação dos seus dirigentes.

O Benfica tenta resolver a questão com um convite a responsáveis do Sporting para visitarem o recinto antes do jogo. Estes aceitam e juntamente com representantes da Liga e da PSP aprovam as condições e nenhuma critica têm a fazer. Pessoalmente nada tiveram a apontar. Escondidos nos seus gabinetes , numa atitude hipócrita, continuavam a regar com gasolina uma fogueira que só eles ateavam.
Entre a Figueira da Foz e o derby o Benfica teve um compromisso realmente importante e por isso nunca entrou , felizmente, no circo verde. Não emitiu comunicados, não fez apelos, apenas mostrou a responsáveis rivais que não havia motivo nenhum para tanto barulho.
Pessoalmente fiz o mesmo. Aproveitei o jogo contra a Bósnia na Luz, convidei um bom amigo verde que também é blogger e mostrei-lhe ao vivo e a cores que não havia motivos para tanto drama. Ele concordou!

Para espanto geral a polémica não parava. Venho de Manchester encantado com a jornada europeia chego a Lisboa ávido de notícias sobre a Champions e só encontro o tema Jaula. Os dirigentes leoninos vão com os adeptos e recusam o tradicional almoço com o Benfica! Pensei que realmente está tudo doido e que já estavam mesmo a esticar a corda toda.
Parecem um puto de 18 anos a puxar de tabaco e álcool para se afirmar perante os mais velhos. Não faz sentido.
Claro está que a ida à Luz ia ser uma palhaçada e tudo ia ser potenciado em nome de um drama forçado.
Demoraram muito tempo a entrar? Saíram atrasados de Alvalade com a PSP? Sentiram-se apertados na multidão? Desesperaram nas revistas à entrada? Os lugares eram apertados? A visão era má?

Oh pá, santa paciência!! Mas foi a primeira vez que foram à bola na condição de visitados? Sabem há quantos anos é que eu passo por isso em mais de metade dos jogos fora da Luz que eu vou ver do Benfica, incluindo Alvalade? Tudo isto que andam a relatar acontece há anos e anos em todo o lado em que há jogos chamados de alto risco. Brincamos ? Até o facto do cortejo sair atrasado de Alvalade é culpa do Benfica? Tenham juízo. Aliás, quem vos viu e ouviu nos primeiros 40 minutos de jogo no estádio pode testemunhar que não se sentiu nenhum desconforto no vosso sector tal era a alegria com que cantavam e aplaudiam o vosso clube. Desconfio é que o Javi tornou a vossa latrina irrespirável...

Perderam o Jogo Mas Ganharam um ... Cristovão
O Sporting optou por esta via, a do confronto, liderados pela ceguês do Cristovão. O Benfica finalmente reagiu no dia do jogo mostrando 40 e tal bilhetes devolvidos que para eles eram só 12 e depois já eram fait divers e reagiu bem contra toda esta palhaçada que acabou com um fogo inédito num recinto desportivo que parece não incomodar ninguém porque foi uma reacçãoválida não se sabe bem a quê.

Quando se esperava que o Sporting acabasse com o circo após terem ultrapassado todos os limites com os seus adeptos a cometer crime de fogo posto a Direcção resolve dar o passo em frente rumo ao abismo e insiste em endeusar a figura do Cristovão. Entra numa guerra de comunicados de onde saem claramente goleados e acabam a ameaçar divulgar imagens ilegalmente gravadas no nosso espaço que comprometem o nosso Presidente. O Benfica sorri e pede já essas imagens no ar. O Sporting atrapalha-se e percebe que nem uma TV própria tem para as mostrar e então vai entregar na Liga. Eu confesso que gostava de as ver já porque adoro ver Vieira a gesticular recorrendo ao calão em grande estilo. Já vi o nosso Presidente assim noutras situações e tem piada. Mostrem!

Com isto tudo ninguém fala do jogo e o Sporting assume-se como grande opositor ao Benfica em termos de bastidores. Mas também aqui não conseguem a liderança, estão a anos luz do Porto e até do Braguinha que se devem estar a rir desta tentativa de mostrar ao país um Sporting índio.

Quando me criticam aqui por eu eleger o Sporting como meu rival em vez de outro clube qualquer e de ser o responsável por algumas expressões como LOL de Portugal (que me dizem ter nascido neste texto de Janeiro de 2010 ) eu respondo sempre que escolho o rival que quiser. Cresci a discutir com eles, tenho amigos de infância que são verdes e (para quem não sabe) tenho um pai que é do Sporting.
Por isto tudo apesar de todo o gozo que me dá ironizar com o LOL de Portugal eu sei o que é o Sporting. Eu sei o que é que eles queriam dizer com a cena do diferentes e por isso estou à vontade para falar sobre eles.

Cortem-se as Relações!
Sei que Vieira tem feito um enorme esforço para manter uma relação saudável com o Sporting convivendo sempre bem com os últimos presidentes leoninos. Mas quando a estrutura deles tem um incendiário anti benfiquista disfarçado de dirigente chega a altura de cortar toda e qualquer relação com aquela gente. Chega!

Escolheram este caminho, conseguiram mais do que nunca a tal união entre adeptos, sócios e bloggers, mesmo daqueles que odiavam Domingos e se sentiram enganados pela vitória de Godinho. É deixá-los seguir o seu caminho.
Esquecem-se que só há 2 ou 3 derbys por ano e que essa chama depois apaga-se assim que caírem perante outra equipa qualquer. Estamos cá para ver o que dá este novo look guerreiro mas para já digo-vos com muita convicção: eu sei o que é o Sporting e Isto NÃO é O Sporting.
(Fantástico Post retirado do blogue RedPass)

Entrevista MARINHO NEVES
P: O grande sucesso Golpe de Estádio é um romance ou uma comédia? O que pretendia com a publicação desse livro, gozar ou informar?

MN: Naquela altura era necessário dizer a verdade e não havia outra forma de o fazer. Penso que consegui estabelecer um diálogo com o leitor, espevitando-lhes a curiosidade. Mas, não conheço nenhum romance que não seja baseado em histórias reais.

P: Muitos dizem que esse livro ditou a sua reforma antecipada dos principais meios de comunicação. Mas custou-lhe algo mais, como perseguições, tentativas de envenenamento ou até mesmo de assassinato. Sabe os nomes e os motivos de quem orquestrou esses actos?

MN: Fui de facto perseguido, muito perseguido, ameaçado e continuo a ser. Mas, não é verdade que tenha sido a minha reforma antecipada. Depois da publicação do livro trabalhei no programa da SIC "Os Donos da Bola" e em vários jornais, não obstante me terem tentado boicotar todos os trabalhos que iam aparecendo. Não o conseguiram porque Portugal não se resume à cidade do Porto, e Lisboa nunca me fechou as portas. Cheguei a estar contratado para o jornal "A Bola" e no dia em que devia entrar inverteram a situação. Foi caso único na capital.

P: Qual foi o restaurante onde o drogaram? Para que os nossos leitores saibam antes de lá ir comer.

MN: Foi exactamente no mesmo restaurante onde já foram apanhados alguns árbitros portugueses e estrangeiros que foram cear com dirigentes (“Marisqueira de Matosinhos”). Uma vez, vinha a sair desse restaurante em Matosinhos e à saída tinha dois jagunços à minha espera. Só não me aconteceu nada porque ia muito bem acompanhado.

P: Na sua intervenção no Prós & Contras sobre corrupção no futebol, pareceu bastante incomodado com a maneira jocosa com que Valentim Loureiro se apresentou. O que lhe passou pela cabeça quando o viu a “berrar” que ia ser absolvido porque nunca fez falcatrua no futebol?

MN: Quando fui a esse programa foi-me prometido que teria linha aberta para dizer o que quisesse. Mas, quando me estava a maquilhar, o Valentim Loureiro estava ao meu lado e mostrou-se incomodado com a minha presença. Quando me sentei, senti de imediato que nunca me dariam a oportunidade de dizer o que sabia, não obstante o presidente do Sporting, Dias da Cunha, ter dito nesse programa que tudo o que aprendeu no futebol foi comigo. Depois… foi uma comédia.

P: Você tem alguma coisa a ver com o Polvo dos Papalvos, com o Blog da Bola ou com o Tripulha das escutas?

MN: Com "O polvo dos papalvos e "Tripulha das escutas" não. Nem sequer conheço. Já o Blog da Bola, foi com grande emoção que me vi obrigado a encerrar, tantos eram os processos judiciais, todos arquivados porque apresentei provas do que dizia. Mas não
deixei de gastar fortunas em advogados e despesas judiciais. Em toda a minha carreira jornalística tive 35 processos judiciais, todos arquivados antes de julgamento com a excepção de um, em que fui absolvido.

P: O que faria se lhe dessem a presidência de um dos clubes mais mediáticos de modo a "limpar" o futebol em Portugal?

MN: Mesmo como presidente de um clube podia fazer muito pouco. Primeiro tinha de conquistar a simpatia e a confiança da maior parte dos clubes e só juntos podíamos normalizar o actual sistema. Pinto da Costa demorou 10 anos a montar a máquina enquanto os clubes da capital se degladiavam.

P: Que previsão faz para o Futebol Clube do Porto e para o futebol nacional, quando Pinto da Costa abandonar o cargo no clube?

MN: Esse vai ser o grande problema dos portistas. Quando Pinto da Costa acabar, o clube também acaba.

P: É do foro público que o Marinho trabalhou para o Sporting contra o “sistema”. Quem foi a primeira pessoa a iniciar essa luta contra o “sistema” no futebol Português?

MN: Quando Dias da Cunha foi eleito presidente do Sporting, depressa se apercebeu da falcatrua que era o nosso futebol. Não sabia para que lado se havia de virar. Fui então contactado pelo seu assessor, Carlos Severino, para ver que disponibilidade tinha para trabalhar directamente com o presidente com a função de o alertar dos perigos que o clube corria. Inicialmente não me mostrei muito interessado, mas por outro lado pensei que poderia lutar por dentro e combater a corrupção, até porque a Polícia Judiciária já me tinha como consultor e não me pagava nada. Aceitei, mediante um bom vencimento e com a condição, por mim proposta, de que se não gostassem do meu trabalho despedia-me sem qualquer tipo de indemnização. Fiquei por lá seis anos, mas no meu segundo ano fomos campeões nacionais, principalmente porque o Sporting sabia com 15 dias de antecedência as armadilhas que lhes estavam a preparar. Um exemplo: 15 dias antes avisei o presidente que no jogo X que antecipava um jogo com o Porto, o árbitro da partida seria fulano e que Beto e Rui Jorge iriam ser espicaçados por esse árbitro durante o encontro para este encontrar motivos para os expulsar. No dia do jogo confirmou-se a minha informação. Num outro caso, num jogo decisivo para a conquista do campeonato, frente ao Boavista, soube que o árbitro da partida tinha ido almoçar com Valentim Loureiro, que era presidente da Liga. Avisei o presidente e todos ficaram em pânico. Não sabiam o que fazer porque não havia provas. Disse-lhes que a única coisa a fazer era Manolo Vidal, antes do jogo, quando fosse entregar as fichas aos árbitros, deveria dizer: "Então o almoço de terça-feira foi bom?" Mais nada. Quando o árbitro ouviu aquela pergunta associou de imediato a intenção do delegado ao jogo e ficou em pânico, contou-me depois Manolo Vidal. Durante esse jogo o árbitro até beneficiou o Sporting e fomos campeões. O árbitro não sabia que provas tínhamos e como era internacional, não colocou a sua carreira em risco. Mas a conquista do campeonato desencadeou uma série de invejas dentro do próprio clube e quando dei por ela estava a lutar contra gente que estava a ser paga pelo clube, mas que queria que este perdesse para conquistarem o poder e poderem fazer os seus negócios. Cheguei mesmo ao ponto de saber que os meus relatórios semanais eram entregues, por gente do Sporting, aos nosso principais inimigos, Porto e Boavista. Não sou nem nunca fui sportinguista e nunca escondi isso. Era apenas o meu trabalho.

P: As acções do Sporting nessa luta contra o “sistema” tinham qual objectivo? E as do Benfica? Os lutos pela arbitragem, levar DVD’s ao ministro ou qualquer outro tipo de protesto surtem mesmo algum efeito? Amedrontam o “sistema”?

MN: A primeira coisa que fiz, foi convencer Dias da Cunha de que devia fazer uma aliança com o Benfica se queriam conquistar o poder. Sempre disse que o inimigo do Sporting não era o Benfica, mas o Porto e o Boavista da altura. Consegui. Dias da Cunha fez uma aliança com Luís Filipe Vieira e foi à televisão dizer que as cabeças do sistema eram Pinto da Costa e Valentim Loureiro. Forneci documentos que provavam isso mesmoO Porto e o Boavista começaram a sentir-se ameaçados e começaram a
minar o Sporting por dentro utilizando alguns elementos que hoje continuam no clube. Dias da Cunha não aguentou a pressão e demitiu-se. Pedi a demissão com ele.

P: E crê que Benfica e Sporting alguma vez vão lutar em igualdade de circunstâncias com o Porto nos bastidores do futebol nacional? Essa união entre os dois clubes poderia purificar o nosso futebol ou acha que cada qual, à vez, preferem aproveitar o que podem do velho “sistema” que se encontra ainda, residualmente, instalado para próprio benefício?

MN: Para se ganhar e encontrar defesas para os mais diversos ataques, é necessário ter poder. Disse isso muitas vezes a Dias da Cunha. Primeiro tinham de conquistar poder na AF de Lisboa, como fizeram os Dragões na sua cidade. Depois encontrar aliados nas Associações mais poderosas para se chegar ao poder na FPF, mais propriamente na disciplina e arbitragem. Não para fazer o mesmo, mas para fiscalizar e enfraquecer o poder de manobra do seu mais directo opositorÉ necessário que os árbitros sintam que estão sob vigilância permanente. Houve casos em que grandes árbitros eram promovidos e mostravam qualidade, mas se não se adaptavam ao sistema, eram despromovidos. Muitos queriam ser honestos, mas o sistema não lhes permitia tal atitude. Os mais vigaristas eram sempre os primeiros a ser promovidos. Para travar tudo isto era necessário ter poder e Benfica e Sporting não tinham um único dirigente na FPF ou na Liga para fiscalizarem a situação ou impor a sua vontade. Vejam o exemplo desta época: O Porto está zangado com o Sporting e Benfica e a época deles tem sido um desastre, imaginem o que seria se Sporting e Benfica fossem aliados. Tem sido assim ao longos dos 20 anos e os clubes de Lisboa não aprendem. Pinto da Costa é um mestre na acção de dividir para reinar.
P: Falou nos árbitros. É possível, a um qualquer árbitro, chegar a internacional sem essa tal “bênção” do “sistema”?

MN: Nem pensar. O próprio Vitor Pereira sabe que só está naquele lugar porque tem uma grande flexibilidade de coluna. Quando não for assim acontece-lhe como aos outros. É despedido ou criam-lhe situações que o obriguem a demitir-se.

P: O que aconteceu a quem lutou contra isso? Que outras protagonistas do Futebol, para além do Marinho, foram afastadas da ribalta do futebol?

MN: Infelizmente não há muitos mais. Lembram-se do árbitro José Leirós? Denunciou uma tentativa de corrupção por parte do Braga. Nesse dia era pré-internacional e a quem todos apontavam como internacional, mas no final da época, acabou por ser despromovido para a 2ª categoria e depois desistiu. Mas houve muitos mais, mesmo em termos de comunicação social. No programa "Donos da Bola" da SIC, tínhamos 52% de share, ou seja, o programa mais visto desta estação e de um dia para o outro acabaram com ele. Nós estávamos sempre à frente da polícia. A PJ tinha um plantão a ver o programa e com base nas nossas informações fazia buscas à segunda-feira. Nesse tempo o futebol tremeu, mas quem caiu fomos nós.

P: Sabemos que se tem dedicado a outras artes, com bastante sucesso até. Pensa ainda voltar a exercer a sua profissão, após ter sido um dos primeiros jornalistas de investigação desportiva ou será que esta nova geração de directores nas publicações continuam a não ter “tomates” para contrariar o poder?

MN: Para mim o jornalismo acabou, mas acabou porque eu quis. Os novos jornais não querem gente com coragem e integra. Querem moços de recados. Serviçais do poder. É como disse Sócrates: "Não me preocupo com jornalistas. Prefiro controlar os seus patrões." Hoje já não é uma questão de tomates, mas sim de atitude. Se tens tomates não tens onde escrever. Eu mesmo tenho o Golpe de Estádio 2 já escrito há mais de 6 meses e quando se soube disso desapertaram-me as rodas do meu jeep. Também sei que a maior parte das editoras estão controladas, assim como livrarias, vejam o que aconteceu ao livro do Octávio. Alguém falou disso??? Quase passou despercebido. É assim que o poder joga.
P: Por fim, gostaria de deixar alguma mensagem aos milhares de leitores "anónimos" que este e outros blogs de futebol congregam que repudiam a maior parte dos jornalistas pela falta de isenção inerente?

MN: Entendam melhor os jornalistas. Conheço muitos que gostariam de mostrar coragem, mas ela morre logo na marcação dos serviços.

4 comentários:

  1. Nem de propósito.

    Marinho Neves no FaceBook:

    "Estou triste com o que está a acontecer com o Sporting. Trabalhei 6 anos no clube de Alvalade com o sentido de ajudar a limpar e abrir novos caminhos. Foi o período mais vitorioso dos últimos 20 anos. Não tenho de me queixar porque fui pago para isso. Mas se o Sporting quiser encontrar o seu caminho, a primeira coisa que tem a fazer, é libertar-se da aliança e espiões que tem a Norte. Que lhe sirva de exemplo o que aconteceu ao Salgueiros e Boavista quando optaram pela mesma aliança."

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  2. Nem de propósito.

    Marinho Neves no FaceBook:

    "Estou triste com o que está a acontecer com o Sporting. Trabalhei 6 anos no clube de Alvalade com o sentido de ajudar a limpar e abrir novos caminhos. Foi o período mais vitorioso dos últimos 20 anos. Não tenho de me queixar porque fui pago para isso. Mas se o Sporting quiser encontrar o seu caminho, a primeira coisa que tem a fazer, é libertar-se da aliança e espiões que tem a Norte. Que lhe sirva de exemplo o que aconteceu ao Salgueiros e Boavista quando optaram pela mesma aliança."

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  3. Eu diria mesmo que o Sporting está a viver um filme de terror sem fim à vista! Como é que é possível!! Agora nem apostar na betclic me parece uma boa opção, a vitória do Sporting é algo cada vez mais incerto...

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  4. Caríssimos AndyCapp,

    Queria aproveitar esta época festiva para vos desejar um feliz Natal e próspero Ano Novo. Estes votos obviamente são extensivos, as vossas famílias, amigos e a todos os vossos leitores.

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